O semanário Expresso de 4 Fev traz uma pequena notícia que depois ocupou o rodapé dos noticiários da RTP: «Israel poderá atacar o Irão na Primavera. Telavive teme que Teerão possa deter a bomba atómica». Não é novidade, é mesmo recorrente a divulgação da abusiva e arrogante pretensão de Israel se arvorar em polícia nuclear do Médio Oriente (M.O.). O que é chocante é o acriticismo da notícia, o tom de “normalidade” de uma ameaça que pode arrastar uma tragédia mundial e que não merece nenhum alerta das potências guardiãs do sistema nem das instâncias internacionais. Aliás como já aconteceu com anteriores agressões israelitas ao Iraque (Osirak, 1981) e, mais recentemente, segundo se supõe, à Síria. É a confirmação do estatuto de excepcional impunidade de que Israel beneficia, face às sistemáticas acções preventivas contra os seus vizinhos – logo agressões segundo o quadro legal da ONU –, bem como às constantes violações das resoluções da ONU.


Acresce que na área do nuclear não assiste a Israel nenhuma legitimidade, porque é uma potência nuclear (PN) não assumida e, como tal, não sujeita ao sistema de fiscalização internacional. Obviamente que tudo isto só é possível porque Israel obteve o seu arsenal com a conivência da França e a benevolência dos EUA.
Mas para além do problema ético, dos dois pesos e duas medidas que, como se sabe, no domínio dos conflitos e das relações internacionais pouco vale, a questão é que no campo prático, qualquer ataque de Israel ao Irão, não só constitui uma ameaça de consequências incalculáveis, como não resolverá o problema de fundo. Admitir que durará eternamente uma situação de monopólio nuclear, seja onde for, é estúpido e irrealista e a desejável desnuclearização no M.O. não poderá ignorar as AN de Israel. Sem isso apenas se adiará a solução. Muitos e qualificados analistas, nomeadamente norte-americanos e alguns de origem judaica, têm-se pronunciado sobre esta matéria. Para exemplo e porque o espaço é limitado, apenas trago aqui o testemunho do autor israelita Ze’ev Schiff, que invoca «(…) uma terceira opção em relação ao Irão (…) da mesma forma que o presidente Kennedy encontrou uma terceira via para resolver a crise dos mísseis de Cuba (…)» (http://www.carnegieendowment.org/). Ze’ev refere-se, obviamente, à crise de 1962 que terminou com a negociação Kennedy/Krushev que levou ao desmantelamento dos mísseis soviéticos em Cuba e à retirada dos mísseis americanos na Turquia.
Israel sabe que não corre riscos de ataque nuclear, até porque tem a garantia do guarda-chuva nuclear norte-americano. Com as suas AN apenas pretende assegurar um estatuto de excepção que lhe permita intervir preventivamente no M.O. Age como Estado pária que põe em risco a paz mundial e é o grande obstáculo a que o Irão desista da AN.
É por isto que o vídeo sobre a ameaça de uma 3.ª guerra mundial com que abri o meu primeiro GDH tem toda a oportunidade.
 
Por Pedro de Pezarat Correia
In GIRO DO HORIZONTE - “Viagem dos Argonautas”
http://aviagemdosargonautas.blogs.sapo.pt/