Assinalam-se agora nove anos do início da segunda Guerra do Golfo - o lançamento da invasão do Iraque, a destruição do seu estado, o assassinato do seu chefe de estado - na sequencia de doze anos de desgaste económico e social e de brutal sofrimentos do povo Iraquiano, por via de um pesado embargo económico, apertado controle militar e a acção subversiva - subsequentes ao termo, de facto a mera suspensão, das actividades bélicas da primeira Guerra do Golfo em 1991. Ignorando apelos internacionais e propostas de resolução negociada da crise na região, os EUA, o Reino Unido e seus aliados iniciaram então o que foi uma nova etapa na escalada de agressão e tomada de posições militares no Médio Oriente.
Essa ofensiva militar - que teve como antecedente próximo a agressão e ocupação do Afeganistão, e teria como sequencias futuras as intervenções imperialistas e presença militar activa noutros países do Norte de África, Médio Oriente e no Mar Arábico – visava executar um plano expresso de instauração de dominação hegemónica do Médio Oriente, sob o disfarce do discurso da “defesa dos direitos humanos”, da “instauração de regimes democráticos” e da “guerra ao terrorismo”, cujo verdadeiro resultado pratico deveria ser o controlo político dos países e a implantação de bases militares na região - mediante os quais as potencias Ocidentais pudessem suprimir a luta popular, nacional e progressista dos povos do Médio Oriente, explorar o trabalho desses povos e espoliá-los das suas riquezas naturais, e bem assim, ocupar posições e ganhar vantagens geoestratégicas e económicas face às potencias euro-asiáticas.


As sucessivas etapas desta ofensiva militar que se acelerou após a dissolução do bloco socialista, assinalam também ofensivas no sentido das técnicas e meios militares – mais sinistramente mortíferos, eficazes e assimétricos – e de vantagens económicas – o alastramento da rede de interesses industriais e comerciais e a espoliação de recursos naturais escassos.
Esta guerra permanente de opressão e rapina, conduziu à invasão e ocupação do Iraque iniciada em 19 de Março de 2003 por força Anglo-Americanas – acção de violência brutal desencadeada hipocritamente em nome da legalidade internacional - um dos maiores crimes imperialistas cometidos no Médio Oriente e que se prolonga ainda até hoje, sem que o povo Iraquiano se tenha deixado submeter. Essa etapa foi também um salto qualitativo no envolvimento mais directo das potências europeias na estratégia de domínio imperialista e na imposição de políticas supranacionais no quadro da União Europeia, cada vez mais federalista e militarista.
O lançamento da segunda Guerra do Golfo fica ainda assinalada como uma nova etapa no condicionamento e na manipulação desavergonhada da opinião pública, cuja reacção geralmente contrária à guerra foi ultrapassada pela imposição de mentiras e acções subversivas de estado por parte das potências apostadas nesse novo passo belicista. As mentiras sobre a existência de armas de destruição maciça nas mãos do exército Iraquiano acabaram por ser expostas e desmontadas após a ocupação – aí se incluindo os testemunhos de David Kelly (o que lhe custou uma morte “misteriosa”) e de Hans Blix (investigador chefe da Agencia Internacional de Energia Atómica). Cabe-nos registar a encenação mediática final que antecedeu a ofensiva – a “cimeira dos Açores” com George W. Bush, Tony Blair, Jose Maria Aznar e Jose Manuel Barroso, três dias antes do início do bombardeamento de Bagdad, fingindo sancionar e legitimar a acção que as Nações Unidas não ousara sancionar.
Para traz – mas indelevelmente na memória do povo Iraquiano e na consciência do mundo civilizado – permanecem, apontando o dedo acusador à barbárie imperialista, as centenas de milhar de mortos Iraquianos, os milhões de deslocados, a destruição das infra-estruturas da vida diária, a pilhagem de tesouros da história universal, as torturas na prisão de Abu Ghraib, o genocídio urbano de Fallugah, a desagregação do estado do povo Iraquiano.
Por tudo isto, George W. Bush, Tony Blair, Jose Maria Aznar e Jose Manuel Barroso, e todos os mais responsáveis pela tenebrosa escalada agressiva que o imperialismo levou há nove anos ao Iraque, e que prossegue hoje no Médio Oriente - agora incidindo particularmente sobre a Síria e ameaçando o Irão – são recordados e denunciados perante o tribunal da história, pelos amantes da paz em todo o mundo, reclamando justiça e afirmando solidariedade com os povos agredidos em luta, e reforçando incansavelmente a sua acção a caminho de uma nova ordem internacional que seja a da vida e do bem estar de todos os povos.