A Casa do Alentejo, em Lisboa, encheu-se ao final da tarde de dia 20 de Dezembro para uma sessão de solidariedade com a Palestina, promovida pelo CPPC em parceria com a CGTP-IN, o MDM e o MPPM.

O ponto de partida foi a nova provocação dos EUA de reconhecerem Jerusalém como capital de Israel, mas em todas as intervenções se denunciou a longa e brutal ocupação sionista da Palestina e as desumanas violações dos mais elementares direitos humanos que sempre a acompanharam e a cumplicidade dos Estados Unidos.

O CPPC esteve representado por Gustavo Carneiro, da direcção. Pela CGTP-IN interveio o Secretário-geral, Arménio Carlos, pelo MDM Regina Marques e pelo MPPM Carlos Almeida.

A intervenção de Gustavo Carneiro:

Boa tarde,

Em primeiro lugar, e em nome do Conselho Português para a Paz e Cooperação, gostaria de agradecer à Casa do Alentejo por mais uma vez se associar às justas causas da paz e da solidariedade com os povos, cedendo estas magníficas instalações; à CGTP-IN, ao MDM e ao MPPM por mais uma iniciativa comum em prol daquela que Nelson Mandela um dia afirmou ser a «grande questão moral do nosso tempo», a causa da Palestina; a todos quantos aqui estão a dar corpo a esta expressiva manifestação de solidariedade, numa altura do ano normalmente dedicada aos últimos preparativos das festividades que se aproximam. A vossa presença aqui, a nossa presença aqui, é a mais pungente prova de que a Palestina vencerá! Mais cedo do que tarde, quaisquer que sejam os obstáculos no caminho, vencerá!

Estamos hoje aqui a dar voz à solidariedade com a Palestina, num momento em que ela volta a ser tão necessária, após a provocatória decisão dos Estados Unidos, anunciada por Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Para além de violar de forma aberta o direito internacional e sucessivas resoluções das Nações Unidas, esta decisão acarreta imprevisíveis e perigosas consequências para a paz em toda a região.

Estamos aqui uma vez mais a dar voz à solidariedade com a Palestina quando fica tão evidente a cobertura desde sempre dada pelos Estados Unidos à política sionista de ilegal ocupação de territórios da Palestina, incluindo a ocupação total da cidade de Jerusalém, por parte de Israel. Uma cobertura económica, política, diplomática, militar que não é de hoje e que – mais do que cúmplice – é também responsável por décadas de violência e opressão cometidas contra o povo palestiniano e pela inexistência de um Estado Palestiniano independente, soberano e viável como consagrado pelas Nações Unidas.

Damos voz à solidariedade com a Palestina e ao fazê-lo damo-la também aos habitantes de Jerusalém, que há muito veem a sua cidade ocupada, as suas populações expulsas, as suas casas demolidas – quanto a esta última questão, foram mais de duas mil as casas demolidas desde 1967, número que acresce para 25 mil se de Jerusalém passarmos para toda a Palestina ocupada desde então. É esta ocupação tão efectiva como ilegal que os EUA e Israel pretendem agora «normalizar».

Dar voz à solidariedade com a Palestina significa dá-la aos milhares de palestinianos que vivem cercados pelas centenas de checkpoints existentes, pelo muro que serpenteia pela Cisjordânia e que isola comunidades inteiras, pelos colonatos e pelas infraestruturas ditas «de segurança» que os acompanham e que já representam mais de 40 por cento do território da Cisjordânia; significa dá-la aos milhões de refugiados, muitos dos quais já nasceram no exílio e nunca pisaram a sua terra, mas sentem-se tão palestinianos como os restantes; significa dá-la às centenas de milhares de palestinianos que já passaram pelas prisões de Israel, entre os quais se encontram milhares de crianças; significa dá-la aos habitantes da Faixa de Gaza, que vivem encarcerados numa região onde falta tudo.

Ao darmos voz à solidariedade com a Palestina damo-la, portanto, ao seu povo, que há décadas combate a brutal ocupação e busca o reconhecimento da sua pátria. Esse povo que deu e dá provas de uma heroica firmeza na defesa dos seus direitos nacionais e mantém vivo o sentimento nacional palestiniano. Apesar das expulsões em massa, da destruição de aldeias, da demolição de casas, do roubo de cada vez mais terra pelos colonatos; dos muitos milhares de refugiados, das prisões, dos massacres e dos assassinatos; do muro, dos checkpoints e do apartheid; da imensa prisão a céu aberto que é a Faixa de Gaza.

Juntamo-nos aqui hoje para dar voz à solidariedade com a Palestina, estendendo-a a todos os povos da martirizada região do Médio Oriente, convictos de que esta decisão da administração norte-americana se insere num plano mais vasto de incremento da ingerência e desestabilização de toda a região, ou não tivesse ela sido assumida após a vitória das forças patrióticas sírias e dos seus aliados na sua longa e tenaz luta contra o terrorismo apoiado e patrocinado pelos Estados Unidos e diversas potências europeias e regionais. Ao movimento da Paz, às organizações aqui presentes como a muitas outras, está colocada a necessidade de redobrar a vigilância face à possibilidade de ocorrerem novas agressões a países desta região.

Damos voz à solidariedade com a Palestina associando-nos a todos quantos, por esse mundo fora, continuam a erguê-la pela efectivação dos direitos nacionais do povo da Palestina, contra a ocupação sionista e a cobertura internacional dos Estados Unidos, cada vez mais isolados internacionalmente, como se viu no passado dia 20 na votação do Conselho de Segurança, em que ficaram sozinhos contra os restantes 14 países. Para amanhã, quinta-feira, está marcada uma sessão especial da Assembleia-Geral das Nações Unidas para apreciar uma resolução que solicita precisamente a reversão da decisão norte-americana.

Damos voz à solidariedade com a Palestina, estendendo-a ao movimento pela paz em Israel e aos israelitas que, cada vez em maior número, combatem a ocupação e defendem a democracia no seu próprio país, o que, acreditem, não é nada fácil.

Damos voz à solidariedade com a Palestina como o fizemos inúmeras vezes no passado, em grandes e pequenas acções: em 2007 e 2014, quando a aviação israelita arrasou a Faixa de Gaza e massacrou o seu povo, particularmente crianças; em 2002 e 2004 quando aqui mesmo e nas ruas de várias cidades do País exigimos a libertação do presidente Arafat, cercado pelas forças ocupantes; em 2001 como em 1987 denunciámos a brutalidade da repressão aos justos e legítimos levantamentos populares palestinianos, conhecidos por Intifadas; ou, e não é demais relembrá-lo, ainda em 1979, quando organizámos e acolhemos a grande Conferência Mundial de Solidariedade com o Povo Árabe e a Palestina, na qual participou Yasser Arafat, que fez então a sua primeira visita oficial a um país da Europa Ocidental (tendo sido recebido ao nível de chefe de Estado por diversos responsáveis políticos portugueses). Assim contribuímos de forma decisiva para quebrar o isolamento a que Israel e os Estados Unidos queriam – e ainda querem – confinar a resistência nacional palestiniana.

Aqui na Casa do Alentejo, damos hoje voz à solidariedade com a Palestina e garantimos que o continuaremos a fazer até que termine a ocupação sionista da Palestina; até que não reste mais nenhum prisioneiro político nas prisões de Israel; até que o muro, os postos de controlo e os colonatos não passem de dolorosas recordações; até que os refugiados vejam assegurado o seu direito a regressar ao seu país; até que um Estado da Palestina independente, soberano e viável nasça nas fronteiras anteriores a Junho de 1967, com capital em Jerusalém Oriental.

Damos voz à solidariedade com a Palestina reafirmando a exigência às autoridades portuguesas para que também elas tenham uma voz soberana e firme nas instâncias internacionais em prol dos inalienáveis direitos do povo palestiniano.

Damos voz à solidariedade com a Palestina porque estamos convictos que é ela, juntamente com a luta corajosa do povo palestiniano, que contribuirá para abrir o caminho para a concretização dos direitos nacionais dos palestinianos e para uma paz justa e duradoura em todo o Médio Oriente!

Termino voltando a dar voz a Nelson Mandela, que na década de 90 do século passado afirmou: «sabemos bem que a nossa liberdade está incompleta sem a liberdade dos palestinianos». Penso que todos sentimos o mesmo.

Viva a solidariedade!

Viva a luta do povo palestiniano pelos seus direitos!

Viva a Palestina livre e independente!