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Entre 22 e 30 de novembro, uma delegação poruguesa visitou os acampamentos de refugiados sarauís localizados na Argélia.
A missão de solidariedade, organizada pelo CPPC em cooperação com a Associação Rotas Vermelhas, integrou ainda representantes da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional, da Federação Nacional de Professores, do Movimento Democrático de Mulheres, da União de Resistentes Antifascistas Portugueses, da Associação de Amizade Portugal-Cuba e da Associação de Amizade e Cooperação Iuri Gagarine, para além de outros participantes a título individual.
Instalados na Waila (província/campo de refugiados) de Bojador, os 33 participantes foram acolhidos por famílias sarauís nas suas casas e com elas comeram, pernoitaram e conviveram, tomando contacto direto com o dia-a-dia do povo sarauí, a sua resistência, a sua coragem, a sua hospitalidade. Durante a estadia, a delegação portuguesa teve a oportunidade de constatar a impressionante organização dos acampamentos, a criteriosa distribuição dos parcos recursos existentes, a destacada participação das mulheres aos vários níveis da sociedade, a proteção especial votada às crianças e a impressionante mobilização popular em defesa do seu legítimo direito à autodeterminação.
A delegação portuguesa esteve reunida com o primeiro-ministro e os ministros da Educação e da Cultura da República Árabe Sarauí Democrática. Destes encontros sobressaiu a determinação da Frente Polisário em prosseguir a luta pela autodeterminação, contra a ocupação marroquina do Sara Ocidental e o chamado “plano de autonomia”, com o qual Marrocos pretende conferir uma falsa “legalidade” à ocupação de território e ao roubo dos recursos naturais que pertencem ao povo sarauí, designadamente fosfatos e pescado. Os governantes sarauís reafirmaram a sua abertura para negociar qualquer solução desde que tenha em conta a opinião do povo sarauí, designadamente através de um referendo justo, organizado pelas Nações Unidas, como está prometido desde 1991 e nunca foi cumprido.
No encontro com o presidente do Crescente Vermelho Sarauí, instituição que gere a distribuição da ajuda humanitária e que naqueles dias comemorou o seu 50.º aniversário, a delegação portuguesa inteirou-se do papel que a organização social sarauí assume em todo este processo e do modo totalmente soberano como é gerido, essencial para a garantia de critérios de equidade.
Nas reuniões com a União Geral de Trabalhadores e a União de Mulheres, como no Congresso da União da Juventude, ficou evidente a participação das diferentes camadas sociais na organização da vida nos acampamentos e os esforços para envolver os sarauís que vivem sob ocupação, privados de direitos, e também os que se encontram na diáspora.
Na visita ao Museu Nacional da Resistência Sarauí, como nos contactos com a Associação de Vítimas das Minas, o Comité Nacional contra as Minas e a Comissão Nacional Sarauí de Direitos Humanos, foram denunciados os crimes cometidos por Marrocos – os milhares de mortos e amputados pelas minas e drones, os presos e os desaparecidos nos territórios ocupados – e a coragem da resistência sarauí.
Nas visitas a escolas de vários graus de ensino, à universidade de Tifariti e ao Centro de Produção de Manuais Escolares ficou clara a preocupação com as crianças e com a formação da nova geração, a quem caberá o prosseguimento da luta pela autodeterminação e independência do povo sarauí e a gestão da República Árabe Sarauí Democrática.
No Hospital Nacional e no Hospital regional de Bojador a delegação portuguesa contactou com médicos sarauís e com a brigada médica cubana e ficou a conhecer as inúmeras dificuldades existentes, relacionadas sobretudo com a falta de equipamentos, profissionais e medicamentos, e a forma de as superar: certo é que não há epidemias nos campos de refugiados, há uma rede de cuidados locais e até domiciliários, a taxa de vacinação é elevada e o número de partos em meio hospitalar aumentou consideravelmente.
Foi ainda possível visitar uma cooperativa gerida por mulheres sarauís, onde se produzem alguns bens, como tecidos e alimentos.
Tratando-se de uma missão política, a visita aos campos de refugiados constituiu também uma oportunidade para entregar alguns materiais que fazem falta à vida quotidiana do povo sarauí: medicamentos, material escolar, alimentos, bonecos para as crianças (feitos e oferecidos pela Associação Sénior Castrense) e livros, recolhidos pela Fundação José Saramago e outras organizações no âmbito do projeto “Uma Biblioteca no Deserto”.
Antes de regressar a Portugal, a delegação portuguesa esteve dois dias em Argel, onde manteve contactos com a Comité Argelino de Solidariedade com o Sara Ocidental e a União Geral de Trabalhadores da Argélia e visitou o Museu Nacional dos Mártires.
As organizações participantes nesta viagem de solidariedade irão promover iniciativas em Portugal de informação sobre a situação do povo sarauí e a importância da solidariedade e da denúncia da violação do direito internacional pelo Reino de Marrocos, exigindo-se:
- Fim da ocupação marroquina do Sara Ocidental; respeito pelos direitos nacionais do povo sarauí, nomeadamente, o seu inalianável direito à autodeterminação, a um Estado livre, independente e soberano;
- Realização de um referendo justo sob auspícios das Nações Unidas, prometido desde 1991;
- Protecção dos direitos humanos, incluindo os cívicos e políticos dos cidadãos sarauís nos territórios ilegalmente ocupados;
- Libertação dos presos políticos sarauís detidos em prisões marroquinas;
- Reconhecimento pelo Governo português da República Árabe Sarauí Democrática e a adopção, por parte deste, de uma posição interventiva, agindo em coerência com o direito dos povos à autodeterminação e independência, no respeito do artigo 7.º da Constituição da República Portuguesa.
Assim, no dia 18 de Dezembro de 2025, às 18h30, na Fundação José Saramago, realizar-se-á uma Sessão de Solidariedade com o Povo Sarauí com a presença e intervenção de participantes nesta visita aos acampamentos sarauís.