Outras Notícias

A Peace and Neutrality Alliance -PANA- foi fundada em 1996 para defender que a Irlanda deve ter uma política externa independente própria, com a neutralidade positiva como elemento fundamental. Fizemos isso porque estávamos convencidos de que a elite política irlandesa pretendia destruir a já longa política de neutralidade da Irlanda, que foi um valor histórico profundamente enraizado e entrelaçado com a nossa longa luta pela independência contra a União Britânica e o Império.

Estávamos convencidos de que o seu propósito foi de assegurar a integração da Irlanda nas estruturas militares no eixo EUA/UE/NATO, a fim de garantir que a Irlanda tivesse um papel fundamental no compromisso com uma guerra perpétua do eixo e com a sua doutrina para garantir o domínio global no século XXI.

Nós tivemos um papel fundamental em 2003 na mobilização de mais de 100.000 pessoas para marchar contra a guerra do Iraque e a participação da Irlanda nessa guerra ao permitir que as tropas dos EUA desembarcassem no aeroporto de Shannon a caminho de e para a guerra.

Nós também tivemos um papel fundamental na mobilização para oposição aos Tratados de Amsterdão, Nice e Lisboa, que transferiram o poder dos estados democráticos na UE para as instituições do império emergente europeu, o Banco Central da UE, o Tribunal de Justiça da UE, o Parlamento da UE e o Conselho de Ministros da UE. Uma UE que é um parceiro militar estratégico da NATO e declarado como tal na Conferência da NATO aqui em Lisboa. De facto, nós ganhamos os primeiros referendos contra os Tratados de Nice e de Lisboa e a elite governante só ganhou o segundo referendo através de uma mobilização maciça dos seus grandes meios de comunicação e gastando milhões de euros na defesa do voto sim em comparação com os milhares disponíveis para a campanha do não.

Durante todo este período a PANA procurou centrar as nossas exigências numa série de propostas concretas.
Em primeiro lugar, pedir um referendo sobre uma emenda à Constituição Irlandesa que iria declarar a Irlanda como um estado neutro.

Em segundo lugar, procurar uma alteração dos Tratados da UE, semelhante ao que se aplica à Dinamarca, que excluiria a Irlanda da participação no processo da militarização da UE através da participação do Exército irlandês nos Agrupamentos Tácticos da UE e na Agência Europeia de Defesa etc.

Em terceiro lugar, tentar aprovar um projecto-lei nacional que consagraria na lei interna os termos da Convenção de Haia de 1907, para garantir que a Irlanda tivesse a obrigação legal de respeitar o direito international sobre os direitos e responsabilidades de um estado neutral.

Em Abril deste ano houve duas propostas para pedir um referendo para alterar a Constituição irlandesa que teria garantido que a Irlanda seria um Estado neutral, uma defendida pelo Sinn Fein e a outra por dois deputados independentes do Dail [Câmara Baixa], Clare Daly e Mick Wallace.

Ambas foram derrotadas no Dail por 85 votos contra 25. Existe um total de 166 membros no Dail, mas tendo em conta que alguns deputados estiveram ausentes, foi uma derrota pesada para a PANA, para os valores que defende há 19 anos. Aqueles que votaram a favor da neutralidade foram, Sinn Fein, pequenos partidos de esquerda e vários independentes. Os que votaram contra a neutralidade foram o Fine Gael, Fianna Fail e o Partido Trabalhista Irlandês.

A votação foi o espelho da escolha dos eleitores na última eleição. No entanto, nós temos razão para pensar que os resultados serão diferentes na próxima eleição. A última sondagem, em finais de Abril, foi a seguinte:

Sinn Fein 24%
Independentes 28%
Fine Gael 24%
Fianna Fail 17%
Trabalhistas 7%

Embora nem todos os independentes apoiem a neutralidade irlandesa, é razoável dizer que 20% o fazem, de modo que se a próxima eleição for realizada no próximo mês de Abril, o mais tardar, o número de deputados pró neutralidade eleitos na próxima eleição poderá ser maior do que os que foram eleitos na última.

Claro que as sondagens são apenas um espelho da opinião das pessoas no momento em que são realizadas, e podem certamente mudar quando chegar a altura de votar. Além disso, também podem errar, como aconteceu na Inglaterra nas recentes eleições. No entanto, elas acertaram na Escócia. O Partido Nacionalista Escocês, o SNP, defendeu na sua campanha uma plataforma anti-austeridade e foi contra a renovação dos submarinos Trident com armas nucleares. Como a renovação da posse de armas nucleares, que irá custar 6 mil milhões de libras, é uma necessidade fundamental do Estado imperial britânico, o SNP não só rejeita continuar ligado ao Estado britânico, mas também a sua cultura imperial.

Penso que os irlandeses estarão muito inclinados a seguir o exemplo dos escoceses, ao invés dos ingleses, na próxima eleição. Afinal, o nacionalismo britânico, ou o que é hoje o nacionalismo inglês, está profundamente enraizado nos valores imperialistas muito mais fortes do que na Irlanda ou na Escócia.
Eles precisam manter as suas armas nucleares para sustentar a sua auto-imagem como uma grande potência, como faz a França. Como pode continuar a fazê-lo com a possibilidade muito real da Escócia alcançar a sua independência nacional vai ser interessante. Será que, por exemplo, a Inglaterra poderá substituir o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte no seu assento no Conselho de Segurança da ONU?

Para além de enfraquecer, como republicano irlandês e presidente da PANA que luta por uma República da Irlanda unida com a sua própria política externa independente, a independência escocesa irá prejudicar a população na Irlanda do Norte que apoia a continuação da união com a Inglaterra.

Desde a nossa fundação em 1996, a PANA sempre procurou construir ligações com outros movimentos da paz nas Ilhas Britânicas, a campanha pelo desarmamento nuclear britânico, a CDN escocesa, a CDN galesa e a coligação Stop the War [Parem a guerra] e INCORE na Irlanda do Norte. Claro que a PANA é o único movimento da paz filiado no Conselho Mundial da Paz.

Isto reflecte a realidade de que a PANA faz parte da tradição anti-imperialista irlandesa que é muito mais forte, e muito mais profundamente enraizada na história da Irlanda do que na Inglaterra, Escócia ou País de Gales. Nós certamente sabemos que uma parte fundamental do papel da PANA é actuar como um elo de ligação entre o CMP e outros grupos da paz nas Ilhas Britânicas.

No entanto, há também raízes muito mais profundamente estabelecidas entre a Irlanda, Escócia, País de Gales e Inglaterra do que com outros países europeus. Portanto, planeamos continuar a colocar muito empenho para tornar essas ligações mais fortes. Por exemplo, na nossa próxima Reunião Anual em Novembro iremos convidar John Anslie, o Presidente da CDN escocesa para ser o nosso orador principal.

Também tivemos várias reuniões com Membros do PE. Decorrente de uma com o MPE independente, Nessa Childers, a PANA irá ajudar a organizar uma conferência sobre a militarização da UE, em Setembro. Vamos procurar ter uma reunião com todos os MPEs de toda a Irlanda mais ou menos durante o próximo ano.

A continuada campanha da PANA contra a militarização da UE certamente provou ser correcta e válida com a declaração do Presidente da Comissão Europeia Junker de que a UE deve estar preparada para criar um exército europeu com a finalidade específica de ir para a guerra contra a Rússia. Enquanto os principais meios de comunicação social irlandeses têm mantido um ataque maciço e continuado sobre o malvado Presidente Putin e a malvada Rússia, a PANA não acredita que eles conseguiram convencer o povo irlandês a ir para a guerra contra a Rússia.

A crise na Ucrânia foi causada pela expansão para leste do eixo EUA/UE /NATO e da ascensão do fascismo ucraniano. A elite política/mediática irlandesa foi capaz de convencer 180.000 homens irlandeses para se voluntariarem para lutar e matar alemães, austríacos, húngaros e turcos, em nome da União Britânica e do Império, na guerra imperialista de 1914-1918. A PANA está convencida de que eles não têm a mínima hipótese, como uma bola de neve no inferno, de conseguir 180.000 homens irlandeses como voluntários para lutar e morrer numa guerra contra a Rússia. A PANA já produziu um documento sobre o derrubamento ilegal do governo democraticamente eleito da Ucrânia por fascistas ucranianos apoiados pelo eixo. A PANA só espera que o acordo Minsk forneça a base para um acordo e a base para um passo no sentido de uma Europa que seja uma Parceria de Estados Democráticos Independentes, que inclua a Rússia.

Estaremos também concentrados em apoiar candidatos, especialmente independentes, candidatos nas próximas eleições, para obter o seu apoio aos nossos objectivos.
O próximo ano marcará o 100º aniversário da Rebelião de 1916 contra o Império Britânico, e não há dúvida de que, se as eleições forem realizadas no próximo ano, elas deverão ter um efeito positivo para as perspectivas dos candidatos que apoiam a neutralidade irlandesa.

A PANA tinha assegurado em 1914 que a ligação entre a neutralidade irlandesa e a luta pela independência ficasse clara com o nosso folheto - A Liga da Neutralidade Irlandesa e a Guerra Imperialista 1914-1918. Temos a intenção de continuar a mostrar como é forte a ligação histórica entre os valores da independência irlandesa, a neutralidade irlandesa e a democracia irlandesa.

Este ano tencionamos também publicar um novo folheto sobre a utilização do Aeroporto de Shannon pela máquina de guerra dos EUA. Desde 2003, 2,3 milhões de soldados norte-americanos desembarcaram no aeroporto de Shannon a caminho de e para as suas guerras perpétuas. É e continua a ser uma das questões-chave sobre as quais a PANA se concentra, e tem feito desde 2003. Embora seja verdade que a oposição à austeridade tem sido o principal foco dos movimentos progressistas, a PANA não pede desculpas por manter o seu foco sobre Shannon e na militarização da UE, especialmente os Agrupamentos Tácticos da UE.

Finalmente, ao longo da nossa história, o republicanismo irlandês tem sido o principal opositor ideológico do imperialismo. Sinn Fein é o movimento político principal que mantém essa tradição. O nosso futuro na Irlanda depende de como o Sinn Fein vai lidar com a pressão para acabar essa oposição e ficar "domesticado", tornando-se apenas mais um partido pró-imperialista como o Fianna Fail, que tinha mantido a tradição republicana durante décadas. Eu não sei que caminho irá seguir, mas um bom sinal será a sua relação com a PANA e o seu empenho anti-imperialista claro, como testemunhado pela sua oposição continuada contra o imperialismo e a sua filiação no Conselho Mundial da Paz.

É a nossa ligação com o CMP que dá à PANA um papel no movimento anti-imperialista mundial. A PANA não pode vencer num contexto puramente europeu e muito menos num contexto puramente irlandês. Agradeço ao Conselho Português para a Paz e Cooperação pelo convite para intervir nesta conferência para uma troca de idéias, planos e a nossa experiência. Nós podemos e só alcançaremos a paz através da cooperação, nacional e internacionalmente. Viva o CMP!

Roger Cole
Presidente
Peace & Neutrality Alliance
Lisboa
16/5/15